Em 2010, a arquiteta lituana Kornelija Sirmulyte veio passar dois meses de férias no Brasil com o então namorado – o arquiteto mineiro Leonardo Paes Resende – e nunca mais voltou. Na época, quando se conheceram, os dois moravam em Copenhague, na Dinamarca, e Kornelija trabalhava em um grande e conhecido escritório de arquitetura, o Henning Larsen Architects – onde conseguiu um emprego “por pura sorte”, como diz.

Kornelija Sirmulyte, estreante na 22ª edição da Casa Cor Minas
Kornelija Sirmulyte, estreante na 22ª edição da Casa Cor Minas

Trocar o Mar Báltico pelas montanhas mineiras não foi fácil, e não apenas por conta da paisagem. São inúmeras as diferenças entre Brasil e Dinamarca, considerado um dos países com menor índice de desigualdade do mundo. Embora Kornelija tivesse boa experiência internacional por conta dos anos que trabalhou no Henning Larsen, que possui escritórios em vários lugares do mundo, de Oslo e Hong Kong, o Brasil era um mundo totalmente desconhecido, e o português uma língua com verbos demais.

Loja Hugo Boss em Copenhague| Com AG5, Kornelija trabalhou no projeto executivo do novo escritório e showroom da marca
Loja Hugo Boss em Copenhague| Kornelija trabalhou no projeto executivo do novo escritório e showroom da marca

Hoje, aos 37 anos, mãe de uma filha brasileira e melhor adaptada ao país, tendo colaborado para alguns escritórios em Belo Horizonte, como o de Freuza Zechmeister, Kornelija procura traçar um caminho mais independente, e resolveu se lançar na aventura de participar da Casa Cor Minas, onde promete – ainda com certo mistério – desenvolver um ambiente de leitura que não seja um escritório e nem uma biblioteca. “A época de ter uma grande biblioteca está passando, e quero fazer um ambiente que reflita isso. A biblioteca não pode ser uma peça de decoração. Hoje temos em casa apenas os livros que gostamos, que fazem parte da nossa vida”, defende.

Diferentes culturas

Durante estes seis anos no Brasil, Kornelija teve que se adaptar também às diferentes formas de trabalhar e de pensar o design de interiores por aqui. Para a arquiteta, acostumada a trabalhar em grupo, compartilhando ideias em grandes escritórios, a primeira dificuldade foi esta: desenvolver projetos de forma mais individual. Para Kornelija, isso diz respeito não apenas a sua experiência particular, mas também a diferenças entre as culturas. “No Brasil acho que existe a cultura de trabalhar mais sozinho, e eu demorei pra me acostumar”, confessa.

Harpa - em Henning Larsen Architects | Kornelija trabalhou no grupo dedicado ao interior da sala de concertos. As paredes vermelhas são compostas de painéis de madeira com diferentes espessuras e com finalidades acústicas. Os perfis de aço criam um desenho lúdico sobre eles. Vencedor do Prêmio Mies van der Rohe 2013.
Harpa – em Henning Larsen Architects | Kornelija trabalhou no grupo dedicado ao interior da sala de concertos. As paredes vermelhas são compostas de painéis de madeira com diferentes espessuras e com finalidades acústicas. Os perfis de aço criam um desenho lúdico sobre eles. Vencedor do Prêmio Mies van der Rohe 2013.

Outra diferença que logo ficou clara para a arquiteta diz respeito à relação com o cliente. Segundo ela, a arquitetura de interiores para residências praticamente não existe na Escandinávia. Lá, a maioria dos seus projetos de interiores foram para espaços públicos, como salas de concertos, restaurantes e lojas de aeroportos – às vezes escritórios, que são mais personalizados. “Fazer projeto pra residência tem dois lados. É um pouco limitador, porque residências são muito pessoais, mas desafiador também, porque você precisa aprender sobre o universo dos clientes, e às vezes até mesmo educá-los”, diz.

Já a experiência de participar de uma Casa Cor, para a arquiteta, será uma oportunidade de fazer um ambiente com total liberdade. “Participar da mostra será incrível porque farei o que quero. Acho importante saber me adaptar aos interesses dos meus clientes, mas também preciso de liberdade para me expressar”, defende.

Da arquitetura escandinava ao design brasileiro

Kornelija explica que sua formação – primeiro na Lituânia, e depois na Dinamarca – teve muita influência do design escandinavo, que possui alguns princípios fundamentais: simplicidade, funcionalidade, elegância, comodidade e uso de materiais naturais. “Além disso, procuro desenvolver espaços que tenham um pouco de poesia, mas isso já é mais por minha conta”, defende a arquiteta, que se diz também cada vez mais interessada no design brasileiro.

Nørrebrohallen | Revitalização e ampliação de um antigo galpã elétrico, o Nørrebrohallen, que se transformou em um centro cultural.
Nørrebrohallen | Revitalização e ampliação de um antigo galpã elétrico, o Nørrebrohallen, que se transformou em um centro cultural.

Quando chegou no Brasil, Kornelija tinha dificuldade de encontrar a variedade de mobiliário que existe em Copenhague, mas hoje se diz mais satisfeita. “Passei a pesquisar e conhecer mais, e o mercado também cresceu, com a vinda de algumas lojas para Belo Horizonte especializadas em mobiliário dinamarquês, além do desenvolvimento do design local”, pontua Kornelija, que já reconhece a influência do Brasil em seu trabalho. “O ambiente que vou apresentar na Casa Cor será uma mistura entre a minha formação e tudo que estou absorvendo do design brasileiro. Sinto que estou no meu melhor momento”, finaliza.

Estamos ansiosos para ver o resultado do trabalho de Kornelija para a 22ª edição da Casa Cor Minas, que acontece de 30 de agosto a 04 de outubro.

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