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Casa do Baile. Foto: Marcilio Gazinelli.

O guia de viagem de um arquiteto deveria ser a planta baixa de uma cidade. Um mapa detalhado da construção de cada monumento, museu e outros pontos turísticos tão comuns em roteiros de viagem – todos devidamente assinados pelo seu criador. Junto deste guia deveria vir um anexo fotográfico do interior e do projeto paisagístico de cada espaço, com detalhamento de materiais, elementos e conceitos criativos.

Se este guia existisse e apresentasse o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, ele seria uma grande aula para jovens arquitetos e uma grande fonte de inspiração para os profissionais da área. Teriam as assinaturas de Oscar Niemeyer, Burle Marx e Portinari, e esbanjaria uma beleza criativa que poucos lugares no mundo conseguem expressar.

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Desenho de Oscar Niemeyer da Igreja da Pampulha.

Neste ano a Casa Cor retorna para a região da Pampulha e não foi uma escolha ao acaso. Colocar o evento ali oferece ao público uma riqueza maior do cenário arquitetônico brasileiro, além de apresentar para o mundo o que pode ser o mais novo Patrimônio Mundial da Unesco. Caso você não saiba, o conjunto está concorrendo ao título que pode ser concedido em 2016.

Voltando para o nosso guia de viagem perfeito, nós imaginamos como a Pampulha seria descrita nele. As integração das linhas com a água da lagoa, os detalhes criativos de Burle Marx e as inspirações curvas de Oscar Niemeyer. Se este nosso guia de viagem existisse, ele seria mais ou menos assim:

IGREJA SÃO FRANCISCO

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Igreja da Pampulha | Foto: Marcilio Gazinelli.

A Igreja São Francisco carrega a forte identidade criativa de Oscar Niemeyer em suas curvas. Candido Portinari invade a Igreja com painéis que retratam a Via Sacra e a imagem de São Francisco. E Burle Marx faz das linhas arredondadas de Niemeyer, revestidas de azulejaria portuguesa, uma brincadeira com a contínua linha reta da lagoa, deixando o horizonte ainda mais interessante.

Todo complexo foi encomendado por Juscelino Kubitscheck para modernizar a região, mas a população não estava preparada para tanto vanguardismo. As autoridades eclesiásticas não reconheceram a construção como capela, alegando que os traços não condiziam com o padrão tradicional de igreja. Somente 10 anos depois da sua construção, o espaço foi finalmente reconhecido pelo cristianismo.

CASSINO – MUSEU DE ARTE DA PAMPULHA

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Museu de Arte da Pampulha | Foto: Pedro Gontijo

Você não leu errado. O Museu de Arte da Pampulha foi encomendado para ser um cassino e durante algumas décadas funcionou como um. No entanto, a legislação que passou a proibir as casas de jogos forçou o espaço a fechar e se transformar em um museu.

Também com projeto assinado por Niemeyer e Burle Marx, o Museu de Arte da Pampulha foi desenvolvido às pressas pelo arquiteto, que seguiu fiel à sua identidade curva.

Fiz este projeto em uma noite, não tive alternativa. Mas quando funcionava como cassino, cumpria bem suas finalidades, com seus mármores, suas colunas de aço inoxidável, e a burguesia a se exibir, elegante, pelas suas rampas.” Oscar Niemeyer

IATE TÊNIS CLUBE

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Iate Tênis Clube | Foto: Marcilio Gazinelli.

Já o clube que faz parte do conjunto teve seus jardins projetados por Burle Marx e revestidos com a mesma azulejaria do Cassino. Tinha como objetivo servir de espaço de lazer náutico para a tradicional família mineira. O projeto de Niemeyer construiu uma espécie de casa-barco cujas linhas duras seguem rumo à navegação sobre as águas da lagoa. Se você observar bem a construção diante do horizonte, ela realmente parece um barco ancorado.

CASA DO BAILE

Casa do Baile | Foto: Pedro Gontijo.

A Casa do Baile é o único elemento do Conjunto Arquitetônico da Pampulha totalmente construído sobre a água. É uma ilha artificial ligada á orla por uma passarela e nada mais. Foi construída para ser palco de atividades culturais da burguesia da época. Hoje, ela abriga um centro da Fundação Municipal de Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte focada no Urbanismo, na Arquitetura e no Design. Se você trabalha nesta áreas, com certeza vai se sentir em casa.

GOSTOU DO GUIA?

O guia perfeito para arquitetos ainda não existe, mas você pode usar este post como um ótimo guia para conhecer a Pampulha sob o olhar da arquitetura. E ele não é exclusivo para arquitetos, basta você ser curioso e estar disposto a se deslumbrar com a Pampulha de um jeito que você nem imaginava. Não esquece de levar a sua câmera porque o lugar dá fotos maravilhosas!

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Vista da Pampulha | Foto: Pedro Gontijo.
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