Basta dar uma volta pela cidade para perceber que Belo Horizonte tem várias casas antigas maravilhosas. Algumas abandonadas e em péssimo estado, infelizmente, e outras lindamente preservadas e restauradas. Deste último grupo faz parte o casarão, tombado pelo Patrimônio Histórico, localizado na Rua Gonçalves dias, nº 1.218, ali pertinho da Praça da Liberdade. Com sua fachada cor vinho-bordô-marsala, seus janelões emoldurados por delicadas flores brancas ao estilo Art Nouveau e todo o seu charme histórico, a propriedade não passa despercebida por quem circula na região. É o caso das sócias, Tati Azzi e Fernanda Dubal, da marca de bolsas e acessórios Adô Atelier, criada em 2008. Apaixonadas por arquitetura e design, elas já namoravam o casarão há tempos. “O imóvel nos chamava a atenção em especial pelo contraste dos elementos decorativos da fachada, janelas e beiral”, conta Fernanda. Quando decidiram sair da sede da marca no Prado, logo pensaram na casa histórica para abrigar o atelier, o showroom e a loja da marca.
Mas antes de se tornar a sede da marca, a propriedade que fica na esquina das ruas Gonçalves Dias e Sergipe, há tempos já embelezava a história da cidade. O imóvel foi construído em 1909, com projeto do arquiteto Edgar Nascentes Coelho, primeiro desenhista da Seção de Arquitetura da Comissão Construtora da Nova Capital e um dos precursores do Art Nouveau em BH. É dele o desenho de grandes obras arquitetônicas da cidade, como o prédio do Instituto de Educação e das Igrejas São José (que está em processo de recuperação da fachada) e Sagrado Coração de Jesus.
Planta original da casa, de autoria do arquiteto Edgar Nascentes Coelho | Foto: Arquivo
Como se não bastasse a relevância histórica que vem desde a planta, a casa ainda ocupa um papel importante no campo da literatura. O imóvel abrigou nos anos 20, lendários saraus literários frequentados por artistas e intelectuais, como Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava, ficando conhecido como Salão Vivacqua. “É um privilégio estar em um imóvel como esse. Nada pode ser mais inspirador do que vivenciar essa atmosfera no dia-a-dia”, diz Fernanda. É tão inspirador que a Adô já até começou a criar alguns modelos de acessórios inspirados nas personagens que habitaram a casa (estamos curiosíssimos para ver o resultado!). A propriedade foi ainda a primeira sede do Colégio Loyola na década de 40, último uso do espaço de que se tem notícia.
Foto antiga da casa, anterior à pintura da fachada de cor vinho-bordô-marsala | Foto: Arquivo
Para fazer desse imóvel tão cheio de história a cara da marca, não foi preciso muito. A casa tinha sido revitalizada em 2013, por isso a fachada não foi modificada e a parte interna recebeu somente uma repintura nas paredes e janelas. Apesar do pouco tempo ocupando o espaço, menos de um mês, as meninas já têm os cantinhos prediletos e a Fernanda entrega quais são: “Somos apaixonadas pelos ornamentos da fachada e pelo Art Nouveau das janelas e do gradil da escada”.
Detalhes preservados até na janela | Foto: Divulgação
A decoração foi toda pensada para dialogar com as características centenárias do imóvel. Por isso, Tati, que é designer e Fernanda, arquiteta, deram preferência para peças vintage na hora de compor o mobiliário e expor os produtos da marca. Bolsas, carteiras e cases (para celular, notebook e câmera fotográfica) ficam dispostos nos armários e estantes retrô escolhidos a dedo pelas sócias e pela irmã da Fernanda, Marina, que também é arquiteta. Para contrastar e desconstruir o ar histórico da casa, elas também escolheram algumas peças industriais e apostaram em tapetes cheios de geometria.
Decoração caprichada do espaço com mobiliário vintage e geometrismo | Foto: Divulgação
O que não faz parte da decoração, mas é um charme só, é o pé de jabuticaba que fica no quintal da casa, a cereja do bolo. É muita doçura para um lugar só, né gente? E o público tem ido em peso visitar. “A gente tem recebido muita gente interessada não só nos produtos, mas em conhecer a arquitetura e o projeto da loja”, conta Fernanda. Com tanta história, causos e beleza, vale mesmo a pena fazer uma visita à essa casa que está preservada como poucas. E as meninas da Adô dão a dica: Essa será uma temporada criativa. Aguardem!