Se o Brasil fosse um grande projeto arquitetônico de uma casa, como ele seria? Ao passar pela porta de entrada, o que exatamente estaria diante de nossos olhos? Seria o verde das matas, desde o cerrado à Amazônia? Seria a grande diversidade de relevos, formas e texturas? Quais cores poderiam tomar as paredes, as portas e as janelas? Quais matérias-primas?
Este exercício de imaginar a brasilidade do lado de dentro de casa é o que move a Casa Cor deste ano. 52 profissionais empreenderam seu talento para construir uma mostra que valoriza o que é nosso, que cria com o que a natureza e os braços do nosso país têm a oferecer. Mas para a Casa Cor Minas apresentar este tema de uma forma tão genuína foi preciso encontrar uma tela em branco que carregasse a brasilidade na essência.
Por meses a equipe da mostra percorreu Belo Horizonte em busca do lugar ideal, um verdadeiro lar para o conceito de 2015. Depois de muita busca, encontraram o número 30 da Alameda das Latânias na Pampulha. Por que este endereço? Por que esta casa? O que ela tem de brasilidade? Para responder a esta pergunta você precisa conhecer a história da casa escolhida.
Bem-vindo ao lar da Casa Cor Minas 2015
Era uma vez uma casa com as jabuticabeiras originais do Mineirão, com as lembranças de uma grande festa de casamento com o sol se pondo atrás da lagoa, cheia de troféus do vovô Marco Tulio, atleta do tiro e ex-participante da olímpiada de Munique. Uma casa onde as roseiras escondem enterrados, como em um ritual de passagem, os umbigos dos 7 netos recém-nascidos, que anos depois pediram com apreço uma piscina para o vovô e passaram uma infância inteira debaixo d’água.
A casa que hoje abriga a 21º Casa Cor Minas é mais do que um endereço para a mostra, é um capítulo na história de uma família bem brasileira: os Miraglia. O terreno adquirido por Marco Tulio Miraglia na década de 60, começou a ser construído em 1969 e em janeiro de 1970 recebeu a família inteira. Eram o pai, a mãe, Maria da Conceição Miraglia, e os 5 filhos: 4 meninas e 1 menino.
Maria Aparecida, mais conhecida como Pili, é uma das filhas dessa grande família. Ela recorda das várias festas que a casa testemunhou e de como ela sempre teve uma atmosfera de felicidade, “a casa sempre foi muito alegre. A família que já era grande foi se multiplicando e tudo era motivo de festa. Todas as festas de 15 anos das irmãs foram lá, a festa de formatura do meu irmão e até a festa do meu casamento. Eu fui a primeira filha a se casar, imagina a festa que foi!”.
Maria também recorda o carinho e o apreço que o seu pai tinha pela casa, “meu pai falava que só sairia dali para o cemitério. Ele faleceu em 2003 ainda morando na Alameda das Latânias. Depois disso minha irmã morou lá por 1 ano e meio e depois a casa foi vendida.” Ela também recorda de um caso divertido sobre a venda, “chegamos a receber uma proposta pela casa do Vanderlei Luxemburgo, na época técnico do Cruzeiro, minha mãe que era atleticana roxa recusou a oferta sem hesitar.”
Além das festas e das boas memórias, a casa também foi testemunha histórica do desenvolvimento da região. Ela viu o conjunto arquitetônico da Pampulha ganhar forma e popularidade, viu a Av. Catalão ser construída e o Mineirão narrar a sua história no futebol. “No começa a casa tinha uma cerca baixa, não havia preocupações com a segurança. Era muito tranquilo morar ali, a região era distante do centro e calma. Quando a gente mudou não tinha nada de comércio, gastávamos até 1:30h para chegar até a cidade”, recorda Pili.
A vida familiar alegre que a casa guarda é apenas um capítulo de sua história. Na arquitetura ela também esconde um valor inestimável. Além de testemunhar Niemeyer e Burle Marx em seu entorno, a própria casa foi construída por um arquiteto mineiro reconhecido: Raul do Lago Cirne.
Raul nasceu em 4 de agosto de 1928, se formou na turma de 1951 da Universidade Federal de Minas Gerais e durante a década de 70 acumulou importantes prêmios em Belo Horizonte. Ao longo da sua carreira o arquiteto desenvolveu muitas obras, principalmente no estado do Piauí, como o Estádio Governador Alberto Tavares Silva, o Albertão, e o Monumento Jenipapo.
Em 1969, seu projeto para a casa da Alameda das Latânias começou a ser construído. Em janeiro de 1970 a família Miraglia se mudou para lá. A planta original desenvolvida pelo arquiteto infelizmente não existe mais, no entanto, o desenho de aquarela feito por Raul continua intacta, preservada por uma das filhas de Marco Tulio.
Bernadette Correa visitou a casa quando criança e se lembra como a arquitetura, tão moderna para a época, despertou nela uma vontade de ser arquiteta um dia, “lembro de estar dentro da casa, em volta daquelas paredes de tijolinhos e das palmeiras no talude do quintal e pensar: vou ser arquiteta e vou ter uma casa assim’”. Hoje, Bernadette concretizou o sonho: se tornou uma arquiteta reconhecida e construiu uma casa como a da Alameda das Latânias.
As mesmas paredes que inspiraram Bernadette também inspiraram 52 profissionais participantes da mostra deste ano. A casa foi dividida em 38 ambientes e teve a sua brasilidade potencializada e sua história enriquecida por projetos criativos e inovadores. A transformação é notável. A antiga sala de jantar, por exemplo, hoje se tornou a Sala Central assinada por Pedro Lázaro.
Alameda das Latânias, 30: o endereço da brasilidade
Neste ano a brasilidade, tema da Casa Cor Minas 2015, tem como endereço a Alameda das Latânias, 30, na Pampulha. No entanto, este jeito brasileiro de morar não começou junto da mostra, ela começou quando a primeira parede da casa foi erguida em 1969 e continuou quando a família Miraglia construiu a sua história.
A 21ª Casa Cor Minas é apenas mais um capítulo nesta forma brasileira de morar, viver e construir um lar. Um capítulo estendido dentro de uma casa tão viva, tão alegre, tão brasileira e tão cheia de história.
Para onde essa brasilidade toda vai? Para os olhares curiosos de quem vier visitar a Casa Cor Minas. Venha, traga a sua família e os amigos, se inspire e faça parte da história deste lugar tão mágico!
Casa Cor Minas 2015
Data De 30 de agosto até 6 de outubro
Local Alameda das Latânias, 30 – Pampulha
Horário terça-sexta: 15h às 22h | Sábados: 13h às 22h | Domingos e feriados: 13h às 19h
Ingressos terça a sexta: R$40 inteira, R$20 meia | Sábado, domingo e feriado: R$50 inteira, R$25 meia | Passaporte para todos os dias: R$140 inteira, R$70 meia