Conheça as histórias de galpões que estão mudando a cena cultural da capital.
Benfeitoria, Querida Jacinta, Fósforo… todos esses espaços têm algo em comum: nasceram da transformação e ressignificação de galpões em Belo Horizonte. Cada um desses lugares, com seus objetivos e características, foram modificados e também ajudaram a diversificar a cena cultural da nossa cidade. Aos poucos, as pessoas começam a explorar diferentes regiões e passam a ocupar BH para além de suas fronteiras mais tradicionais.
Foi por acaso que uma das integrantes do coletivo que compõe a Benfeitoria encontrou o galpão que hoje abriga o espaço cultural colaborativo. Como nos conta Jordana Menezes, elas já planejavam fazer a expansão da Benfs e o espaço localizado à Rua Sapucaí, 153 foi o achado perfeito: “A gente já via um grande potencial na Sapucaí por ser uma rua central, mas que tem um respiro muito grande, prédios mais afastados, um pôr de sol maravilhoso e aquela mureta que deixa a paisagem com ares de cidade pequena.”
O projeto de reforma e design de interiores do galpão foi assinado pelos arquitetos Danilo Guerra e Débora Lanna. Jordana nos conta que eles foram guiados por 3 principais elementos: verba reduzida, o desejo de garantir mais espaço livre que facilitasse a circulação de pessoas e permitisse diversos formatos de eventos e as inspirações em espaços culturais do Brasil e do mundo. “Muita gente nos fala que a Benfs lembra a cidade de Berlim (Alemanha), mas a gente brinca que é uma Berlim com toques de Brasil… são móveis garimpados e paredes descascadas misturadas a uma bananeira, que dá um toque mais tropical, por exemplo.”
O resultado é um ambiente que convida as pessoas para se sentarem e se acomodarem, seja para beber uma cerveja ou para passar a tarde lendo um livro em alguma das poltronas espalhadas pelo local.
Renata da Matta, sócia-fundadora da Fósforo, empresa de cenografia e arquitetura, morou a sua vida inteira no bairro Pompéia. Seu apreço pela região vem da tranquilidade e aconchego que o bairro transmite e foi na busca por um galpão localizado nas redondezas que encontraram o lugar ideal para abrigar o jovem escritório: “Quando começamos a procurar um galpão, o espaço pulou na nossa frente como se estivéssemos predestinados a ocupá-lo. A estrutura estava boa, necessitando de pouco investimento, além da localização ser de fácil acesso e ótima para trânsito de caminhões de qualquer porte.”
Por esta razão, não houve necessidade de nenhuma intervenção na estrutura do espaço. Renata, que é arquiteta, ficou responsável pelo projeto de iluminação. Além disso, fizeram uma pintura e chamaram dois artistas para criarem dois grandes painéis: Clara Valente assumiu a fachada e Thiago Mazza assina a parede do mezanino.
Renata conta que o feedback tem sido muito positivo: “O público tem gostado bastante. Estou começando a receber estudantes e fomentar workshops nas áreas de cenografia, direção de arte, arquitetura, arte e criatividade. E é isso que mais quero trabalhar no espaço. Compartilhar conhecimento!”
Uma mistura de empório, restaurante, cervejaria e bar dançante… essa é a Jacinta, localizada no bairro Santa Efigênia, zona leste de Belo Horizonte. O galpão em que funciona o empreendimento abrigou o grupo de dança contemporânea Meia Ponta e o Espaço Cultural Ambiente, durante 12 anos. Ao lado da mãe, a produtora cultural Keyla Monadjemi era responsável pela gestão do espaço e quando chegou a hora de seguir em frente, a ideia de montar uma cervejaria junto com Vinicius Resende e o apego ao ponto fizeram com que eles decidissem manter e reutilizar o galpão.
A reforma, assinada pelos arquitetos Fernando Maculan e Joana Magalhães, tinha como objetivo transformar aquele espaço em um ambiente simples, despojado e multiuso. Keyla explica que a ideia sempre foi utilizar o galpão em formatos diversos: “Gostamos muito do trabalho final. O que norteou esse projeto foi necessidade de ter uma luz natural, e para isso, era necessário ter um teto bacana. Também precisávamos de um espaço multiuso, fluido, que se adaptasse a diversos formatos e não fosse engessado. Queríamos um espaço que dialogasse com a cidade e por isso fizemos modificações na fachada e estamos na fase final do projeto de construção de um parklet e um bicicletário.”
Keyla garante que a retorno do público tem sido muito positivo: “A resposta tem sido incrível. Muitas pessoas reconhecem aquele espaço que durante 12 anos abrigou um estúdio de dança, de capoeira… e o galpão está ali, você consegue visualizar que ele já serviu para outras atividades, as pessoas se reconhecem ali. A luz natural ficou incrível e temos recebido muitos elogios sobre o projeto.”
Pouco a pouco, esses espaços começam a transformar as regiões em que estão localizados. Para Jordana Menezes, a Benfeitoria chamou a atenção para a Sapucaí: “Antes de nós, aqui só existia a Salumeria. Quando abrimos, a rua era muito vazia e as pessoas estavam sempre em trânsito. Aos poucos, outros estabelecimentos foram chegando e ela se tornou uma via de permanência, de estacionamento do público. A Sapucaí hoje é movimentada o tempo todo e as pessoas circulam entre um bar e outro, param para ver o pôr do sol… Isso nos traz uma sensação de segurança imensa.”
Renata conta que a Fósforo, mesmo com pouco tempo de existência, começou a engajar e unir a comunidade local: “Estamos começando ainda, mas já fizemos duas feirinhas com produtores de BH e foram muito bem recebidas. Os vizinhos adoram! Além disso, pretendo começar a trazer um envolvimento maior da comunidade com cursos pagos e gratuitos.”
Keyla nos conta que construir uma convivência pacífica com os vizinhos da Jacinta sempre foi uma preocupação e por isso, o investimento em uma boa acústica foi essencial. Ela explica que a vizinhança tem tecido inúmeros elogios sobre a iniciativa: “Eles dizem ‘que bacana que vocês conseguiram trazer vida para a rua’. Estamos numa área histórica super legal da cidade, perto do Brasil 41, atrás do antigo Lapa Multishow, perto do Chopp da Fábrica. É numa região boêmia que já tem uma vida noturna, mas, especificamente a nossa rua era uma via mais erma.”
O retorno do público mostra que aos poucos, a população começa a ocupar e experimentar regiões que estão além do circuito mais tradicional de cultura e lazer em Belo Horizonte. “O Pompéia está se tornando um polo com vários atrativos! Acredito muito em começar a fomentar regiões que saiam do círculo interno da Av. Contorno, então estou muito feliz aqui e espero trazer cada vez mais gente.”, conta Renata.
Na Benfeitoria, Jordana também percebe uma transformação nos hábitos da população: “As pessoas são mais tradicionais, mas estão sempre buscando uma coisa nova. Temos o desafio de fazermos cada vez mais uma programação diferente. Isso faz com que as pessoas pensem em novos formatos de entretenimento. O público está mais aberto para o movimento da rua e nosso espaço físico vai além das paredes. Tudo faz parte de um movimento de resistência e de ocupação cultural da cidade.”
Para Keyla, a Jacinta é um espaço que une o melhor desses dois mundos: ao mesmo tempo que ocupa uma região tradicional, apresenta um formato novo, jovem e descolado: “Nós queríamos estar ali. A ideia era ter essa vivência e poder buscar duas coisas que a Zona Leste proporciona. É uma região com um público jovem, mas também é tradicional no sentido de estar ali a bastante tempo.”
Benfeitoria
Rua Sapucaí,153 – Floresta
(31) 3504-7624
Fósforo Cenografia e Arquietetura
Rua Belém, 220 – Pompéia
(31) 2527-5343
Jacinta
Rua Grão pará, 185 – Santa Efigênia
(31) 99889-0077