Um encontro entre três projetos que, de diferentes maneiras, chamam atenção para detalhes gráficos e ornamentos da arquitetura de Belo Horizonte, como pisos, fachadas e gradis. É esta a proposta do bate-papo que acontece no Museu das Minas e do Metal – lugar que, aliás, já daria motivos suficientes para conversar sobre os temas em questão por algumas horas.

A iniciativa é da jornalista Paola Carvalho, que em 2013 – ao lado de uma colega de profissão, Raíssa Pena – criou a página Chão que eu piso, propondo reunir fotografias de ladrilhos de Belo Horizonte e de outros lugares por onde viajava. “Além dos aspectos artísticos e arquitetônicos, gosto de pensar que os pisos são testemunhas de histórias”, diz Paola, que sempre procura relatar situações sobre os lugares onde pisa.

Com o tempo, a jornalista passou a descobrir uma série de curiosidades e coincidências sobre a história dos pisos. Por exemplo, depois de fotografar alguns deles nos arredores da Praça da Liberdade, ela percebeu – por meio da publicação de um seguidor da página – que em Paris existe um azulejo com desenho idêntico. “São os chamados pisos gêmeos”, explica. Ao pesquisar sobre a coincidência, Paola descobriu que a comissão construtora de Belo Horizonte contava com muitos franceses, e por isso a cidade seguiu alguns padrões dos quarteirões de Paris. “É possível construir linhas históricas, perceber influências arquitetônicas e conexões entre os países, e tudo isso por meio dos pisos”, analisa.

chao que eu piso 1

Ou seja, por meio dos azulejos de outros lugares é possível reconstruir também a história da arquitetura mineira. “O piso da Estação Central de Belo Horizonte é encontrado também na Lapa, no Rio de Janeiro. Tem pisos em Santa Efigênia que a gente encontrou no Vietnã e na Guatemala”, explica.

Ao todo, já são mais de 250 fotos tiradas em chãos dos mais diversos lugares, e quase 8.000 publicações com a hashtag proposta pela página: #chaoqueeupiso. Curiosamente, a primeira publicação do perfil foi feita justamente no Museu onde ocorre o bate-papo – quando a jornalista, além de exaltar a beleza do piso, lembrou também de detalhes sobre a história do prédio, que tem a idade de Belo Horizonte.

Memória das grades ornamentais

Sobre o encontro, a jornalista explica que há tempo tinha vontade de iniciar uma série de bate-papos para falar sobre a cidade por meio do design e da história. Dessa vez, outros dois projetos semelhantes ao “Chão que eu piso” serão apresentados: “Urbano ornamento” e “Fachada frontal”.

O primeiro, que propõe uma reflexão sobre os desenhos gráficos observados nos gradis de Belo Horizonte, iniciou em 2008 e foi motivado pela tese de doutorado de professora Fernanda Goulart, que hoje leciona na Escola de Belas Artes da UFMG – projeto que depois passou a contar com a participação de vários estudantes da universidade.

É o caso de Lorena Galery, que começou a se envolver com o “Urbano ornamento” em 2011, quando uma equipe de alunos fez um grande inventário destes gradis por meio de fotografias e também por vetorização. Foram fotografadas as fachadas frontais de 34 bairros mais antigos da cidade, o que resultou em um acervo de aproximadamente 4.000 mil imagens. Para Lorena, a pesquisa serviu para desfazer um velho mito: o de que a ornamentação dos gradis de Belo Horizonte, por ser uma cidade relativamente nova, seria pobre ou restrito.

urbano ornamento1

Com a pesquisa, a gente concluiu que existe, diferente do que se dizia, uma infinidade de desenhos. Talvez não exista uma exuberância nestes gradis, como em outras cidades mais antigas, mas com certeza há muita inventividade”, defende a pesquisadora, que vai apresentar parte desta pesquisa durante o bate-papo.

Fachadas de prédios em BH: arquitetura e ilustração

O outro projeto que será apresentado no encontro, “Fachada frontal”, é de um arquiteto, urbanista e ilustrador, Zema Vieira, e consiste em ilustrações – feitas com a linguagem do desenho técnico – das fachadas de prédios marcantes de Belo Horizonte, como o Edifício J.K., a Estação Central e a Igreja de São José, entre outros.

A ideia destas ilustrações é resgatar o desenho técnico de uns anos atrás, quando existia um cuidado que era quase artístico”, diz o arquiteto, que propõe com estas ilustrações fazer justamente o caminho contrário de todo arquiteto: transformar um objeto tridimensional – no caso, uma edificação acabada – em uma imagem sem perspectiva.

Entre as fachadas preferidas de Zema, está a da Serraria Souza Pinto, só que vista de cima do Viaduto Santa Tereza. “Nesta ilustração juntei duas construções que gosto muito. A construção do viaduto, em 1929, por um lado bloqueia este edifício tão soberano que é a Serraria, mas por outro possibilita um ângulo novo. Procurei retratar este olhar”, diz.

fachada frontal depois

Já a ilustração mais recente é a da Igreja de São José – depois de restaurada. Meses antes, o ilustrador havia desenhado a mesma construção sem o restauro. “Esse assunto do restauro dividiu opiniões. Para não entrar na polêmica, eu fiz as duas”, diz Zema, que confessa sua predileção pela versão recente.

igreja antes do restauro

Na quinta-feira, diferente das palestras que costuma dar para os cursos de arquitetura, quando trata de questões mais técnicas do projeto, Zema espera conversar sobre a relação das fachadas que ilustra com os pisos e gradis. “Os três projetos se complementam, e acho que a riqueza do bate-papo está justamente neste encontro entre diferentes perspectivas”, finaliza.

 

O QUÊ: Chão Que Eu Piso convida Urbano Ornamento e Fachada Frontal para um bate-papo sobre a memória gráfica da capital
ONDE: MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal – Praça da Liberdade
QUANDO: Quinta-feira, 16 de julho, às 19h
QUANTO: Gratuito (ingressos esgotados)

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